Regina Celi Machado

Trataremos neste ano de 2010 de assuntos mais técnicos ligados ao edifício igreja. Nosso objetivo é sempre um edifício a serviço da assembléia reunida para a ação litúrgica. Começaremos com o tema da segurança.

Segurança no espaço de celebrar

No dicionário encontramos para a palavra segurança alguns significados: estabilidade e firmeza; estado ou condição de uma pessoa ou coisa que está livre de perigos, de incertezas, asseguradas de danos e riscos eventuais e afastadas de todo mal; estado daquilo que é firme, seguro, inabalável, ou daquele com quem se pode contar ou em quem se pode confiar inteiramente.

Costumamos afirmar que no espaço da igreja nada é por acaso, tudo fala, cada detalhe dentro do espaço de culto transmite informações sobre a fé e sobre a forma de pensarmos e estarmos no mundo e nossa relação com as pessoas.

Qual experiência se pode fazer em um espaço instável e que oferece perigo à vida e à saúde das pessoas? Por outro lado, que experiência faz o fiel num espaço onde se sente livre de todos os perigos, protegido, seguro? A liturgia e o espaço nos educam, formam a nossa fé. O espaço pode ser aliado da formação de uma fé firme, segura, inabalável, confiante.

Falaremos aqui da segurança do imóvel, do patrimônio, mas sobretudo, trataremos da segurança que Quando vamos construir ou reformar um edifício público temos que estar atentos à legislação específica sobre segurança. Há obrigatoriedade de aprovação do projeto de construção ou reforma na Prefeitura local e no Corpo de Bombeiros. Os projetos devem estar em conformidade com as legislações pertinentes para que a obra possa obter o alvará de construção, o habite-se e a licença de funcionamento.

A concretização de um projeto para a construção passa por diferentes etapas e a primeira, depois de um projeto arquitetônico concebido e amadurecido, dever ser a base da obra. Nada fica estável se não houver uma base sólida que o sustente. Pensar na qualidade do terreno providenciando uma sondagem e projeto estrutural é um sinal de começo sólido.

Capela de São Francisco – Colina de São Francisco – São Paulo. Fechamento frontal com cerca e vegetação.

 

Alguns itens essenciais de projeto:

Pelo menos duas aberturas de ingresso e saída autônomas são necessárias, com largura não menor que 2 metros e abrindo para fora com iluminação indicativa da rota de saída.

Os corredores de uso comum devem ter no mínimo 1,20 m de largura, os de uso restrito com 0,90 m. Também as escadas de uso comum devem ter largura de 1,20 m e as escadas de uso restrito 0,90 m. O pé direito (medida entre o piso e o forro da igreja) deve ter no mínimo 4 metros de altura. E a área deve ser dimensionada segundo a lotação prevista.

Deve haver ventilação natural ou por dispositivos mecânicos capazes de proporcionar suficiente renovação de ar. Deve haver reserva de água com vazão adequada para hidrantes quando a metragem quadrada construída ultrapassar 750 m² e extintores em lugares determinados pelo Corpo de Bombeiros para uso em caso de incêndio.

Alguns itens exigidos pelos órgãos públicos visam o conforto mínimo do usuário, outros visam à segurança em caso de tumulto. Sem o mínimo de conforto o fiel não pode participar adequadamente da liturgia. Com calor excessivo, falta de circulação de ar, pouca iluminação e confinamento, não é possível uma boa participação na liturgia.

Alguns itens que exigem manutenção constante

A rede elétrica requer não só um bom dimensionamento como também materiais adequados e protegidos conforme a legislação, e com constante manutenção. Não é raro vermos fios comidos por roedores, fiação exposta, executadas na maioria das vezes para atender necessidades que não foram previstas quando da elaboração do projeto, provocando curtos circuitos e colocando em risco as pessoas.

A estrutura da edificação deve estar sempre protegida. Em muitas construções é costume deixar a ferragem de espera de um segundo pavimento ou de uma futura torre à mostra durante anos a fio. Esta ferragem não só fica comprometida, como compromete toda aquela que já foi concretada. Quando alguma ferragem aparece sob um recobrimento que se desprendeu da estrutura (viga ou pilar), deve ser imediatamente tratada e de forma adequada para que a estabilidade não fique comprometida. Muitas vezes alguém da comunidade, com a melhor das boas intenções, não trata da corrosão e cobre essa ferragem oxidada com uma massa onde mistura cal, o que acaba prejudicando mais, pois a cal corroê o ferro e coloca em risco toda a estrutura com o tempo.

Alguns itens para respeitar o usuário

Pisos antiderrapantes devem ser previstos em áreas externas que podem receber chuva, e na área perto da pia batismal também; guarda corpo em todas as escadas e rampas para auxiliar quem tem dificuldade de locomoção, inclusive no acesso ao presbitério; banheiros em local de fácil acesso sem, no entanto, estarem dentro da igreja, e com número de vasos sanitários, mictórios e lavatórios como determina a legislação. Bebedouro também em lugar acessível, mas não dentro do salão de culto.

Banheiros e bebedouros não podem atrapalhar o desenvolvimento da liturgia. A assembléia não pode desviar sua atenção para o entra e sai de banheiros e uso de bebedouro, e nem para os barulhos provocados por ambos. O ventilador também deve ser evitado e para isso é possível prever uma ventilação natural cruzada e constante que evite os desagradáveis barulhos.

Como proteger o imóvel sem segregar pessoas:

Seria um sonho se as igrejas pudessem estar abertas 24 horas a receber toda e qualquer pessoa. Mas vivemos num mundo que não possibilita este sonho. As igrejas são alvos de vandalismo, de uso indevido de seu espaço, entre tantas outras situações indesejáveis que comprometem não só a segurança do imóvel quanto de seus usuários.

O desafio aqui é proteger o lugar sem transformá-lo numa prisão cheia de grades. A igreja deve convidar o fiel a entrar e nunca ser um lugar que afasta as pessoas. Há muitas maneiras de proteger o lugar sem segregar, pode-se fazer uso de elementos disfarçados no jardim, o vidro também é uma forma de fechar de forma discreta. Há muitas maneiras, para cada caso deve ser pensada uma solução que leve em conta segurança e acolhimento.

 

Regina Céli Machado.
arquiteta
[email protected] , [email protected]

Regina Céli Machado é arquiteta sacra e escreve na Revista de Liturgia.

Fonte do Artigo:
MACHADO, Regina. Segurança da igreja edifício e da Igreja – Assembléia reunida, O que a Liturgia tem a ver com Ecologia?. São Paulo, 217, p. 26 a 28, Jan/Fev 2010.

Compre esta Revista de Liturgia. Clique aqui.

Revista de Liturgia Ed 217 – O que Liturgia tem a ver com Ecologia?

Deixe um comentário