Quando a liturgia deixou de ser a fonte da vida cristã, distanciada do povo pela limitação da língua, destituída de significação teológica em consequência do divórcio entre catequese e liturgia, o povo de Deus, impedido de participar foi, ao seu modo, encontrando outras expressões da fé e formando, o que João Paulo II chamou de verdadeiro tesouro do povo de Deus. Segundo o Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia (DPPL), trata-se de múltiplas e variadas modalidades de expressar com simplicidade e fervor espiritual, ao lado ou juntamente com as celebrações litúrgicas, a fé em Deus, o amor ao Cristo, a invocação ao Espírito, a devoção a Maria e aos santos e santas, sempre em busca da conversão e de uma coerente conduta de vida. De um lado, porque profundamente ligada à vida, a piedade popular guarda valores essenciais com apurado sentido de Deus e de pertença à Igreja, capazes de alimentar a fé e de suscitar atitudes evangélicas. Por outro lado, desenvolvida muitas vezes à margem da comunidade cristã, carece de uma catequese bíblica esclarecida. A reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II, devolvendo ao povo de Deus a possibilidade de participar ativa e conscientemente das ações litúrgicas, dá precedência à Liturgia, como primeira e mais necessária fonte de espiritualidade, por ser ela, memória pascal do mistério central da nossa fé. Contudo, tal precedência não significa que a participação na celebração litúrgica seja a única forma de vida espiritual. Três outras expressões são evocadas: a oração pessoal, o trazer no próprio corpo as marcas da paixão e a piedade popular (cf. SC 12-13). Com respeito às práticas de piedade, a Constituição litúrgica do Concílio Vaticano II, propõe harmonizá-las com o ano litúrgico para que se inspire na liturgia e a ela conduza o povo cristão (cf. SC 13). A renovação litúrgica torna-se, de certo modo, parâmetro de avaliação e renovação das práticas de piedade e de devoção. A opção pelos pobres e o senso pastoral para responder à sua sede de Deus, levarão cada comunidade a exercitar-se no profundo respeito às autênticas expressões de fé sem resvalar no arcaísmo, em diálogo com as novas gerações e com a sensibilidade ecumênica do nosso tempo, em busca da mútua fecundação entre liturgia e piedade popular. Entenda-se valorizar sabiamente as diversas riquezas existentes em cada lugar, com suas potencialidades, evitando o hibridismo distorcido de transportá-las para lugares onde não existem (cf. DPPL, n. 143).
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